A verdadeira cegueira

A VERDADEIRA CEGUEIRA
João Batista Chamadoira
jobachama@uol.com.br

Uma dessas coincidências, numa clínica oftalmológica. Uma revista no consultório, trazia concretizada uma das coisas que até enfeitam o Natal: uma matéria, com o nome do primeiro juiz cego do Brasil: Ricardo Tadeu Marques da Fonseca. Passou por inúmeros problemas neurológicos, superou-os, cursou Direito e, mesmo com baixa visão, 4% em um olho e o% em outro, conseguiu entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Em 1983, último ano da Faculdade, ficou cego de vez. E contou com os colegas e amigos que gravavam os textos em fita, para que pudesse estudar. Fã de MPB, tocava violão desde criança, foi para os bares da vida e “engatou um romance com Suzane e têm duas filhas” .Fez o curso de mestrado. Inscreveu-se no concurso para juiz do TRT de São Paulo. Foi passando, chegou até a etapa final, mas foi cortado do concurso, pois “um juiz cego não era possível”. Da “comissão” fazia parte o famoso juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, de triste memórias.
Em seu trabalho como procurador, Ricardo Tadeu tocou centenas de processos, trabalhando auditivamente. Tornou-se doutor – com tese e não porque só fez Direito – e é desembargador.
Vejo, pela matéria na revista, que os CDs que gravo para os cegos do LAR SANTA LUZIA, com aluno-bolsista e voluntários, crescem em importância.
Mas soube de advogados que são contra o direito de os cegos participarem da sociedade e fazer concursos para juiz. Esses advogados são os verdadeiros cegos.
Professor de Jornalismo, de Linguística, produtor radiofônico e membro da Academia Bauruense de Letras.

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