Cultura

CULTURA


Setembro, aposentadoria compulsória. Tempo até para ver filmes na TV. Mas decepção. Em vez de ouvir, nos canais de TV por assinatura, vozes nas línguas inglesa, francesa, espanhola, italiana, japonesa, chinesa, indiana, alemã, etc, ouvi, num irreal Português, um personagem dizer algo como “Ei, ei, rapazes, esperem-me!” Como? Até na TV a cabo filme dublado? Outro dia, a funcionária da locadora lamentava: “Mas o filme pedido é legendado, senhor.” Não é dublado”. E eu: “Ainda bem...” Mas a coisa vai do Rádio à TV. Para o maestro Júlio Medaglia, em entrevista na TV Cultura, os programas de rádio, são “um lixo”. Na entrevista no Roda Viva, da TV Cultura, Boni afirmou ser normal agora filme dublado na TV a cabo. Para ele, a nova classe C, com mais dinheiro não estava acostumada ainda, com certos elementos culturais, e a TV a cabo estava em busca de um novo mercado. Desculpem-me, caros leitores, mas tive a sorte de ter professores que me estimularam a gostar de literatura, dança, teatro, cinema, música erudita, museus, e hoje sinto falta dos filmes que não passam em shopping centers... E que não chegam a Bauru. Mas é importante, alguém se lembrar de divulgar outras coisas que podem ser vistas na TV, nas casas de espetáculos, no Rádio, sem que fiquemos com saudade da vida cultural de São Paulo, por exemplo.Na década de 60, cheguei até pôr, a contragosto, gravata para poder entrar no Theatro Municipal, em São Paulo, nos domingos de manhã, em busca de música erudita. Leitor, não torça o nariz para meu ar de elitista neste texto. Mas não dá para ver programas de TV que deixam o povo cada vez mais alienado. Os romanos já diziam “De gustibus non est disputandum”, “gosto não se discute”. Mas é preciso, sim, discutir gosto. Lógico que a preferência por programas de rádio, de TV e por programas culturais passa também pela variável Educação, que, no nosso país, não está lá essas coisas. O Boni disse que vai demorar. Quem sabe...

Professor de Lingüística, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras