Trabalho e preguiça

TRABALHO E PREGUIÇA


Preguiça, é vista como um dos “sete pecados capitais”. Conceito de nossos pais, que, também, herdaram de seus antepassados: é falta de disposição para o trabalho, indolência. Na verdade, a palavra “preguiçoso” conota irresponsabilidade, falta de vontade em relação ao trabalho. Mário de Andrade marca seu Macunaíma, pela própria fala deste “Ai, que preguiça!”. Segundo a tradição, a palavra “trabalho” é vista como coisa ruim, desagradável. E com razão, na medida em que, sua etimologia é o vocábulo latino “tripalium”, instrumento de tortura composto de três paus. E há a questão da “exploração do homem pelo homem”. Assim, a palavra trabalho, por extensão, sempre teve a conotação de tortura. Mas, por outro lado, trabalho implica realização, muitas vezes até prazer (quando se trabalha no que se gosta). O poeta Camões, em seu soneto 88 (Lírica), faz uma apologia do trabalho ao mostrar Jacó trabalhando sete anos, “mais servira se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. Esses conceitos vêm a propósito do ensaio do jornalista Adauto Novais, no caderno ILUSTRÍSSIMA,”Apologia da preguiça“, FOLHA DE S. PAULO.PÁG. 4,em que apresenta a preguiça como “o objetivo essencial do homem.” e o trabalho como maldito. A forma como o trabalho foi visto na história da humanidade – coisa de escravo, coisa menor só para os pobres possibilita a deturpação do conceito do trabalho. Afinal, pensar, pintar, jogar basquete, futebol, nadar até como lazer é trabalho Aliás, foi o trabalho que possibilitou ao homem a condição de conforto, menos esforço para se conseguir coisas mais difíceis. Se estamos com preguiça, não vamos sequer fazer o que mais nos agrada que, muitas vezes, é concretizar pendores artísticos, ler, aprender, ajudar os outros. Será que ao escrever um conto, tocar gaita, compor artigo para jornal, vai ser resultado de uma ação maldita? Ora. Precisamos é mesmo estar num país mais desenvolvido para que todos possam fazer o trabalho de que gosta com o prazer de realização. Daí eu discordar de Adauto Novais.

Professor de Linguistica, de Jornalismo, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras.