Futebol e o lúdico - JORNAL BOM DIA BAURU

O FUTEBOL E O LÚDICO
João Batista Chamadoira
jobachama@uol.com.br

TV Cultura, programa Cartão Verde. O apresentador, antes de o Santos sagrar-se campeão, perguntou aos telespectadores se o time iria, ou não, ser campeão paulista. Um dos telespectadores, torcedor do Santos, respondeu que “eu não estou preocupado se o Santos vai ser campeão ou não. Minha maior preocupação é se ele vai continuar jogando bonito como está jogando.” Depoimento esperado e corajoso. Na “era Dunga”, num contexto em que os apresentadores galvãobuenentos, torcem furiosamente para o Brasil, a fim de que a seleção não fracasse, para que a Globo não perca os patrocínios, fiquei surpreso com a investida da criatividade e inventividade, demonstrada pelo telespectador. Afinal, parece que este não pensa como Nelson Rodrigues, aquele que acreditava que a pátria estava nas chuteiras dos jogadores. Porque esse negócio de achar que tem que ganhar de qualquer jeito é dar lugar à mediocridade, ao jogo feio, medroso, muito distante, por exemplo do belo padrão de jogo que Telê impôs na Espanha em 1982 e na México em 1986. Dirão os que veem o futebol como um jogo do ganhar, custe o que custar, que o Brasil perdeu, e que o negócio é ferrar os adversários, até torcer para que um craque adversário se machuque para que desfalque o time e facilite as coisas “para nós”.
Não, futebol deve ser encontro, confraternização, lance bonito, gol de placa, seja de quem for. É o lúdico. Festa. Ganhar, perder é mera circunstância. É isso.
Professor de Jornalismo, Lingüística, produtor radiofônico e Membro da Academia Bauruense de Letras.

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