A moça do ônibus e Vinícius

Ponto de ônibus. De novo, ela estava ali, do mesmo jeitinho. Loira, pele bronzeada. Cabelos escorridos e molhados. Destacava-se das demais que esperavam o diário ônibus da minha viagem cotidiana das Perdizes até a Amaral Gurgel. Não havia ainda o benefício do metrô. Ou era o carona ou, como dizem os jovens, busão. E eu, franco observador dos passageiros do ôni,k preferi-o. Mas aquela passageira me chamva muito a atenção já no ponto, esquina da Monte Alegre com a Turiaçu.
Esguia, sempre de traje jovem, mjeans, umas vezes saia, outras, calça. De saia, deixava sobressair a pele bronzeada, as pernas, torneadas no torno, terminavam em sandálias só dela.
No ônibus seguia, andava sedguindo o balançar até acomodar-se nuns gestos como se, milimetricamente, tivesse -os preparado para o momento certo de sentar-se. Apesar de esticar a sainha jeans, num jeito de pudica que, de certa forma, conmtrariava o tamanho da roupa. Mas era tentar esconder o impossível. Os joelhos teimavam em escapar das saia jeans.
Uma manhã, correria para entrar no ônibus, cabelos momhados, claro deixei-a subir antes. Sorriso de agradecimento. Dentes branquíssimos nos lábios rubros e no rosto de bgronze. Um lugar apenas vago.
- O senhor quer que segture a pasta? Era a pasta de meus raszcunhos da dissetaação. Claro, passei-lhe, agradecendo baixinho. Veio um não de quÊ tão jovem e belo.
Duas semanas de espera em vão. Eu, já acostumado como se acostuma com uma imperdível guloseima, esperava-a com certo anseio. Curtir ônibus só com os usuários normais. faltava muita coisa no veículo. Esperar...
Mas valeu a pena a espera. subiu, sentou-se no único lugar vago. Ofereceu suas mãos para segurar a pasta. Claro , não tive dúvidas. E esboçamos pequeno sorriso recíproco.
No trajeto, ou por força da Santa Cecília - passávamos em frente à igreja, lá no bairro - a ocupante do lugar ao lado da moça bronzeada, sempre de jeans, levantou-se para descer o espaço para eu sentar-me. Peguei da pasta, abri-a e retirei um livro ed c comec ei a ler.
- O que o senhor está lendo?
- Vicícius de Mores.
- Um dos meus autores. Adoro a vida meio hedonista que Vinícius tem. Sou fã.
Senti-me imensamente copnformtado. Afinal, sabia algo de literaqtura. Apesar de uma época menos corrida e sperficial do a de hoje, via, com certa surpresa o detalhe da conversa dela. Hedonismo em Vinícius? Tinha toda razão.
Quis desafiá-la:
- Onde você viu essa filosofia grega em Vinícius de Moraes
- No "Samba da bênção", no "De repente não mais que de repente..." e mais ainda no " Soneto da fidelidade": " Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."

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