CULTURA
Setembro, aposentadoria compulsória. Tempo até para ver filmes na TV. Mas decepção. Em vez de ouvir, nos canais de TV por assinatura, vozes nas línguas inglesa, francesa, espanhola, italiana, japonesa, chinesa, indiana, alemã, etc, ouvi, num irreal Português, um personagem dizer algo como “Ei, ei, rapazes, esperem-me!” Como? Até na TV a cabo filme dublado? Outro dia, a funcionária da locadora lamentava: “Mas o filme pedido é legendado, senhor.” Não é dublado”. E eu: “Ainda bem...” Mas a coisa vai do Rádio à TV. Para o maestro Júlio Medaglia, em entrevista na TV Cultura, os programas de rádio, são “um lixo”. Na entrevista no Roda Viva, da TV Cultura, Boni afirmou ser normal agora filme dublado na TV a cabo. Para ele, a nova classe C, com mais dinheiro não estava acostumada ainda, com certos elementos culturais, e a TV a cabo estava em busca de um novo mercado. Desculpem-me, caros leitores, mas tive a sorte de ter professores que me estimularam a gostar de literatura, dança, teatro, cinema, música erudita, museus, e hoje sinto falta dos filmes que não passam em shopping centers... E que não chegam a Bauru. Mas é importante, alguém se lembrar de divulgar outras coisas que podem ser vistas na TV, nas casas de espetáculos, no Rádio, sem que fiquemos com saudade da vida cultural de São Paulo, por exemplo.Na década de 60, cheguei até pôr, a contragosto, gravata para poder entrar no Theatro Municipal, em São Paulo, nos domingos de manhã, em busca de música erudita. Leitor, não torça o nariz para meu ar de elitista neste texto. Mas não dá para ver programas de TV que deixam o povo cada vez mais alienado. Os romanos já diziam “De gustibus non est disputandum”, “gosto não se discute”. Mas é preciso, sim, discutir gosto. Lógico que a preferência por programas de rádio, de TV e por programas culturais passa também pela variável Educação, que, no nosso país, não está lá essas coisas. O Boni disse que vai demorar. Quem sabe...
Professor de Lingüística, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras
Natal
PAPAI NOEL EXISTE
João Batista Chamadoira
A família, se se poderia dizer que aquele pai, a mãe e o filho de 6 anos - ali naquela choça – constituíam uma família...Zé do Lixo, Maria e o Zezim. Chegados do nordeste. Tentavam a vida em Bauru. Fugiram de São Paulo com o incêndio da favela. Vendeu a carroça com que ganhava a vida na capital, e vieram para Bauru. Foi bom o homem que comprou a carroça falar das coisas boas de morar no interior. Custo de vida barato, tudo pertinho. Também, com o barraco só fumaça... E a promessa do homem do interior sobre os empregos nos canaviais. Que bom! Até ônibus para levar os tais de bóias-frias para cortar cana!
E Zé veio cortar cana. O menino ficava em casa. Não estava ainda na escola. Com comida já pronta. Só esquentar. Maria morria de medo de Zezin sofrer alguma coisa... Mas fazer o quê? Dinheirinho a mais pra família. Lá no canavial.
Na invasão, aproveitou o embalo e a chance. Arrumou um lote. E os companheiros da invasão, de mutirão, começaram a montar os então casebres. O da família de Zé ficou, depois de 10 dias. pronto. Não era como o barraco que o fogo queimara lá em São Paulo. Mas dava pro começo. Feito de madeira, muita coisa achada aqui e ali, outras tiradas de árvores mesmo e algumas comprinhas. Eh... trabalhar como boia-fria era duro, mas deu até para uma casa onde passar a noite e poder descansar. Até um comodozinho pro Zezim deu.
-Mãe, que bom ter um quartinho assim.
-Zezim, deixa que logo seu pai até que melhora ele.
A vida dura. Mas tava dando. Levantar cedo, esperar aquele caminhão transformado em ônibus chegar e dormir mais um pouco enquanto viajavam pro canavial. Tinha dó da Maria, ali no frio, sem poder cuidar do menino, que esperava chegar 7 anos para poder ficar uma parte do tempo na escola. Mas logo havia de melhorar. Nem que tenha de morrer. Chego lá.
Mas acabou o corte de cana. Ficariam alguns para limpar o terreno para outra safra. E nessa, quem foi despedido? Zé e Maria. Dívidas para serem pagas. De onde tirar o dinheiro? E Zé voltou a catar o lixo. Zé do Lixo. E lá ia ele todos os dias, o dia todo pegando o que poderia ser aproveitado como o que diziam “lixo reciclado”. Mas sempre alguma coisa levava pra casa. Nas férias, Maria e Zezim o acompanhavam na faina diária de juntar aquilo tudo. Os detritos. Mexer em lata de lixo. E depois carregar pra casa.
-Maria, to precisando de um carrinho. O Migué já usa um puxando com o corpo. Ali com a barriga. Cansa, mas é bom.
Um belo dia, de manhã, Zezim entrou correndo gritando:
- Um carrinho, mãe! Um carrinho. Enquanto Zé improvisava um café com pão dormido, o Zezim corria pra cá, pra lá com o carrinho. Como um brinquedo, ali sempre ausente. Agora sim, mais fácil de carregar o material recolhido. Zé e Maria se entreolharam.
- Agora vai.
E agora os três saíam cedo. Zé até deixava Zezim puxar o carrinho. Quando vazio.
- Haja força na barriga. De noite aquilo, a cintura era vermelhidão dos diabos. Mas o que fazer? Afinal ... sina, destino... Mas vou chegar lá.
-Dê graças a Deus, Zé. Saúde é mais importante. Benza Deus.
Zezim ouvindo, baixava a cabeça pensativo. Férias, então trabalharia. Ajudava o pai.
.................................................................................................................................................
A vida, independentemente de casos, problemas, tristezas, alegrias, passava.
Zé chegou ansioso naquele dia e Maria percebeu.
-Alguma coisa, Zé?
-Tô vendo um cavalo pra comprar. Migué quer vender... e o preço tá bom. Podemos pagar.
Dia seguinte, o cavalo Pinhão ali comendo da graminha e do capim.
-Capim bom, Maria. Capim colonião. Melhor do que o capim favorito. Mais forte. Dos bom. Fibra boa. Olhe só . Só come. Devora. Nem pisca. Come, Pinhão, vai ser boa nossa amizade.
Perto do Natal, Maria começou dar voltas pra falar com Zé. Este percebeu.
-Fala, Maria. Que que é?
-Zé, Natal. O que dar pro Zezim?
- Que mané Natal, o quê! Comprar com quê? Papai Noel... Ah...,bobagem. Natal é pros ricos. Nós aqui, ó! E fez o gesto de uma mão aberta sobre o buraco formada pela outra fechada.
-Zé, que isso? Mais respeito!
- E isso, mulher! E pronto!
Vida continuava e Zé andando ali pelo centro da cidade, viu um Papai Noel na porta da loja. “Que besteira. Onde já se viu? Papai Noel...”, pensou.
Mas numa loja, viu em letras grandes, o anúncio. PRECISA-SE DE HOMEM PARA SER PAPAI NOEL.
Achou estranho aquilo, mas Maria logo explicou:
-Zé, tão querendo alguém para se vestir de Papai Noel. Lá pra loja. De noite você pode ser Papai Noel. Devem pagar. Um dinheirinho a mais vai ajudar, não?
E Zé, não demorou apesar da descrença, podia ser visto ali na loja, todas as noites. Crianças não o procuravam muito como antigamente poderiam procurar. Mas algumas, ainda puras, não marcadas pelo materialismo, achegavam-se. Pegavam nele. Mas outras, claro corriam. Também, quantas mães não mais falavam no velhinho do Natal...
E Zé voltava pra casa.
- Maria, catar lixo dia inteiro... E de noite, na loja, ainda com aquela roupa quente de Pa-pai No-el. De noite! Haja, né?
-Zé, paciência, um dinheirinho a mais nunca é demais. Agradeça a Deus a saúde.
Zé já estava se acostumando à rotina. O dinheirinho aumentando. Também, dois trabalhos.
Mas ...
Uma manhã, Zezim voltou assustado do terreiro da casa.
-Pai, quedê a carroça e o Pinhão?
-Tá lá, pra arreiar. Onde vão estar? Por quê?
O silencio do filho disse tudo. Roubaram a carroça e o Pinhão.
-Meu Deus, e agora? O que fazer? Deus é justo?
-Ainda bem que você tem o emprego de Papai Noel. Ainda quebra o galho. Fazer o quê?
Confiar em Deus.
-Deus? Ah, mulher.
Mas, Zé voltou a catar o lixo. Carregando nas mãos. E tinha que voltar logo, pois ainda tinha o Papai Noel da loja.
E o Natal chegava. Véspera. A loja cheia. Zé não agüentava mais! No dia 24 de dezembro, ficou ate 11 h da noite. Até o último cliente. E foi pra casa. Cansado e triste. Se Natal era alegria para muitos, pro Zé era só tristeza. Foram dormir. Iam trabalhar no dia 25. Afinal, muito lixo por certo nas portas de bares, casas... Muitas festas...
E passou a noite, mais pensando que dormindo. Quando amanheceu, meio sem sono, preparando as vasilhas para catar o lixo do dia 25, foi pro terreiro.
Mas não podia acreditar. Seus olhos viam coisas? Foi a noite sem sono? Estava variando?
Ali, bem na frente dele, ali... Uma carroça novinha, um cavalo forte meio cinza. A carroça toda enfeitada com bolas de árvore de Natal...
Zé chegou perto e viu o cartaz. A principio não acreditou. Como aquilo? Logo ele?
E o cartaz:
“ZÉ, O NATAL EXISTE, SIM. FELIZ NATAL PARA VOCË, MARIA E ZEZIM.”
Zé tirou o chapéu, coçou a cabeça e olhou pro céu.
Foi chamar Maria e Zezin.
João Batista Chamadoira
A família, se se poderia dizer que aquele pai, a mãe e o filho de 6 anos - ali naquela choça – constituíam uma família...Zé do Lixo, Maria e o Zezim. Chegados do nordeste. Tentavam a vida em Bauru. Fugiram de São Paulo com o incêndio da favela. Vendeu a carroça com que ganhava a vida na capital, e vieram para Bauru. Foi bom o homem que comprou a carroça falar das coisas boas de morar no interior. Custo de vida barato, tudo pertinho. Também, com o barraco só fumaça... E a promessa do homem do interior sobre os empregos nos canaviais. Que bom! Até ônibus para levar os tais de bóias-frias para cortar cana!
E Zé veio cortar cana. O menino ficava em casa. Não estava ainda na escola. Com comida já pronta. Só esquentar. Maria morria de medo de Zezin sofrer alguma coisa... Mas fazer o quê? Dinheirinho a mais pra família. Lá no canavial.
Na invasão, aproveitou o embalo e a chance. Arrumou um lote. E os companheiros da invasão, de mutirão, começaram a montar os então casebres. O da família de Zé ficou, depois de 10 dias. pronto. Não era como o barraco que o fogo queimara lá em São Paulo. Mas dava pro começo. Feito de madeira, muita coisa achada aqui e ali, outras tiradas de árvores mesmo e algumas comprinhas. Eh... trabalhar como boia-fria era duro, mas deu até para uma casa onde passar a noite e poder descansar. Até um comodozinho pro Zezim deu.
-Mãe, que bom ter um quartinho assim.
-Zezim, deixa que logo seu pai até que melhora ele.
A vida dura. Mas tava dando. Levantar cedo, esperar aquele caminhão transformado em ônibus chegar e dormir mais um pouco enquanto viajavam pro canavial. Tinha dó da Maria, ali no frio, sem poder cuidar do menino, que esperava chegar 7 anos para poder ficar uma parte do tempo na escola. Mas logo havia de melhorar. Nem que tenha de morrer. Chego lá.
Mas acabou o corte de cana. Ficariam alguns para limpar o terreno para outra safra. E nessa, quem foi despedido? Zé e Maria. Dívidas para serem pagas. De onde tirar o dinheiro? E Zé voltou a catar o lixo. Zé do Lixo. E lá ia ele todos os dias, o dia todo pegando o que poderia ser aproveitado como o que diziam “lixo reciclado”. Mas sempre alguma coisa levava pra casa. Nas férias, Maria e Zezim o acompanhavam na faina diária de juntar aquilo tudo. Os detritos. Mexer em lata de lixo. E depois carregar pra casa.
-Maria, to precisando de um carrinho. O Migué já usa um puxando com o corpo. Ali com a barriga. Cansa, mas é bom.
Um belo dia, de manhã, Zezim entrou correndo gritando:
- Um carrinho, mãe! Um carrinho. Enquanto Zé improvisava um café com pão dormido, o Zezim corria pra cá, pra lá com o carrinho. Como um brinquedo, ali sempre ausente. Agora sim, mais fácil de carregar o material recolhido. Zé e Maria se entreolharam.
- Agora vai.
E agora os três saíam cedo. Zé até deixava Zezim puxar o carrinho. Quando vazio.
- Haja força na barriga. De noite aquilo, a cintura era vermelhidão dos diabos. Mas o que fazer? Afinal ... sina, destino... Mas vou chegar lá.
-Dê graças a Deus, Zé. Saúde é mais importante. Benza Deus.
Zezim ouvindo, baixava a cabeça pensativo. Férias, então trabalharia. Ajudava o pai.
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A vida, independentemente de casos, problemas, tristezas, alegrias, passava.
Zé chegou ansioso naquele dia e Maria percebeu.
-Alguma coisa, Zé?
-Tô vendo um cavalo pra comprar. Migué quer vender... e o preço tá bom. Podemos pagar.
Dia seguinte, o cavalo Pinhão ali comendo da graminha e do capim.
-Capim bom, Maria. Capim colonião. Melhor do que o capim favorito. Mais forte. Dos bom. Fibra boa. Olhe só . Só come. Devora. Nem pisca. Come, Pinhão, vai ser boa nossa amizade.
Perto do Natal, Maria começou dar voltas pra falar com Zé. Este percebeu.
-Fala, Maria. Que que é?
-Zé, Natal. O que dar pro Zezim?
- Que mané Natal, o quê! Comprar com quê? Papai Noel... Ah...,bobagem. Natal é pros ricos. Nós aqui, ó! E fez o gesto de uma mão aberta sobre o buraco formada pela outra fechada.
-Zé, que isso? Mais respeito!
- E isso, mulher! E pronto!
Vida continuava e Zé andando ali pelo centro da cidade, viu um Papai Noel na porta da loja. “Que besteira. Onde já se viu? Papai Noel...”, pensou.
Mas numa loja, viu em letras grandes, o anúncio. PRECISA-SE DE HOMEM PARA SER PAPAI NOEL.
Achou estranho aquilo, mas Maria logo explicou:
-Zé, tão querendo alguém para se vestir de Papai Noel. Lá pra loja. De noite você pode ser Papai Noel. Devem pagar. Um dinheirinho a mais vai ajudar, não?
E Zé, não demorou apesar da descrença, podia ser visto ali na loja, todas as noites. Crianças não o procuravam muito como antigamente poderiam procurar. Mas algumas, ainda puras, não marcadas pelo materialismo, achegavam-se. Pegavam nele. Mas outras, claro corriam. Também, quantas mães não mais falavam no velhinho do Natal...
E Zé voltava pra casa.
- Maria, catar lixo dia inteiro... E de noite, na loja, ainda com aquela roupa quente de Pa-pai No-el. De noite! Haja, né?
-Zé, paciência, um dinheirinho a mais nunca é demais. Agradeça a Deus a saúde.
Zé já estava se acostumando à rotina. O dinheirinho aumentando. Também, dois trabalhos.
Mas ...
Uma manhã, Zezim voltou assustado do terreiro da casa.
-Pai, quedê a carroça e o Pinhão?
-Tá lá, pra arreiar. Onde vão estar? Por quê?
O silencio do filho disse tudo. Roubaram a carroça e o Pinhão.
-Meu Deus, e agora? O que fazer? Deus é justo?
-Ainda bem que você tem o emprego de Papai Noel. Ainda quebra o galho. Fazer o quê?
Confiar em Deus.
-Deus? Ah, mulher.
Mas, Zé voltou a catar o lixo. Carregando nas mãos. E tinha que voltar logo, pois ainda tinha o Papai Noel da loja.
E o Natal chegava. Véspera. A loja cheia. Zé não agüentava mais! No dia 24 de dezembro, ficou ate 11 h da noite. Até o último cliente. E foi pra casa. Cansado e triste. Se Natal era alegria para muitos, pro Zé era só tristeza. Foram dormir. Iam trabalhar no dia 25. Afinal, muito lixo por certo nas portas de bares, casas... Muitas festas...
E passou a noite, mais pensando que dormindo. Quando amanheceu, meio sem sono, preparando as vasilhas para catar o lixo do dia 25, foi pro terreiro.
Mas não podia acreditar. Seus olhos viam coisas? Foi a noite sem sono? Estava variando?
Ali, bem na frente dele, ali... Uma carroça novinha, um cavalo forte meio cinza. A carroça toda enfeitada com bolas de árvore de Natal...
Zé chegou perto e viu o cartaz. A principio não acreditou. Como aquilo? Logo ele?
E o cartaz:
“ZÉ, O NATAL EXISTE, SIM. FELIZ NATAL PARA VOCË, MARIA E ZEZIM.”
Zé tirou o chapéu, coçou a cabeça e olhou pro céu.
Foi chamar Maria e Zezin.
São Paulo na mente e no coração
São Paulo na mente e no corpo
É o Gato que Ri,
Nas conversas, nos sorrisos
Na avenida catatônica
Pessoas buscam outro
Uma histeria incompreensível
Eu sou o quê?
Nós somos?
Outros tiram o pão do amor da vida
Sempre há os que fazem companhia.
Solidariedade ou
Carência coletiva?
Mas o vinho branco
Está à espera.
E rabisco palavras
Que jamais dirão o que estou sentindo
E o gato ri.
É o Gato que Ri,
Nas conversas, nos sorrisos
Na avenida catatônica
Pessoas buscam outro
Uma histeria incompreensível
Eu sou o quê?
Nós somos?
Outros tiram o pão do amor da vida
Sempre há os que fazem companhia.
Solidariedade ou
Carência coletiva?
Mas o vinho branco
Está à espera.
E rabisco palavras
Que jamais dirão o que estou sentindo
E o gato ri.
A VIDA E O CINEMA
Para ele e os amigos, os pais erraram ao escolher o nome do filho de Burt Lancaster de Almeida. Redondamente. Onde já se vira aquilo? Vivia nos cantos, escondia o nome. -Podem me chamar de Almeida. Ou Bê Ele de Almeida.
Lamentava terrivelmente pela sádica idéia de os pais terem dado a ele aquele nome. Um horror. E o pessoal que fazia bullying naquela época deixava-o nos cantos, cabisbaixo. Se entrava no time, a condição era não ser chamado pelo nome. Vivia explicando a origem do nome. Os pais viraram fãs do astro de Hollywood. O filme: A um passo da eternidade, From here to eternity, em 1953. Mas não merecia esse nome absurdo para um brasileiro. Mas pais são pais...
Na adolescência, época dos grandes conflitos, talvez, para fazer jus ao nome, ao clima, mostrou interesse pelo cinema. Colecionava notícias, artigos, entrevistas e até um álbum de figurinhas de astros e estrelas de Hollywood chegou a completar. Enquanto as amigas colecionavam fotos de Tony Curtis, Pat Boone, William Holden, e os marmanjos guardavam as fotos de Marilyn Monroe nua, dos seios de Jane Russel, Jane Mansfield, Sofia Loren de biquíni, ou da Brigite Bardot com topless, ele se prendia e só falava no Burt Lancaster e na Debora Kerr. Era para se vingar dos pais. Maldito nome. Maldito filme... Ninguém mais agüentava...
Tempos depois, uma mudança. Para pior. Cismou que tinha recebido a visita de Burt Lancaster, em pessoa, e não é que era mesmo, a própria Debora Kerr? E vá dizer que era mentira o que estava dizendo. Jurava para todos, em nome de Deus, de todos os santos. “Posso encontrar minha mãe mortinha se não é verdade.” Alguns riam, outros sorriam, meio compadecidos. Outros chegavam a fechar os olhos e murmurar:
- Agora chegou ao fim. Não tem mais jeito.
Até que um dia, sumiu. Depois de uma semana, voltou ele com a velha e antiga ladainha.
-Sabem, tive uma aventura maravilhosa. Imaginem que fiquei com uma mulher maravilhosa, a Audrey Hepburn. Vocês sabem dos filmes Sabrina, Mascarade, Guerra e Paz, Bonequinha de Luxo...
Claro, ninguém acreditou. Zombaram. Agora estava pirado de vez.
Mês seguinte novo sumiço. Todos perguntavam onde Burt teria ido. Na casa, ninguém sabia. Desaparecera?
Mas um dia, todo lampeiro, apareceu na praça. Ansioso dizia que tinha estado com Kirk Douglas, aquele dos filmes Spartacus, O.K. Corral e Montanha dos Sete Abutres.
Era o Burt chegar e todos saíam. Não agüentavam mais. A professora de História, muito próxima dos alunos, soube do caso. Procurou-o. Inútil. Ele teimava que era verdade. Ela ficou até de falar com os pais.
Sumiu de novo. E os amigos, já imaginavam que iria perder o ano. Tantas faltas... Nenhuma preocupação com os estudos. A mãe já contatada pela professora.
E um dia, o pessoal, já imaginando o que ele ia aprontar quando voltasse para o meio deles, já estava pensando em pedir aos pais uma intervenção. Aquilo não podia continuar.
Ele veio de novo. Estava cabeludo, barba...Uns ares de hippye...
Aí os amigos já viam a coisa, até com certa tolerância. Afinal estava até engraçada a presença de Burt entre os amigos.
-E aí, Burt, salve. Quem desta vez visitou você? Os amigos de lado aguardavam ansiosos a resposta.
- Lembram-se do filme Easy Rider? Em Português, foi Sem destino...
-Ah, não, não vai nos dizer que esteve com o Peter Fonda? Essa não...
- Juro, juro. Estive com Peter Fonda, Dennis Hopper e ainda com Jack Nicholson...
- Depois dessa... Pessoal, vamos. Não dá mais.
-Não, gente, espere um pouco. É a pura verdade. Que faço para vocês acreditarem em mim?
- Ah, Burt, vai tomar em Hollywwod. E saíram rindo.
A professora foi à casa do Burt.
-Cuidado, conheço um psiquiatra muito bom lá na Faria Lima. Leve-o. Não custa. Pode ser alguma coisa grave. E quanto mais grave, sabe, né? Pior!
- Vamos ver, disse o pai.
Em casa, os pais questionaram-no. E ele confirmou que tudo que estava dizendo era só verdade. Não estava inventando.
Os pais resolveram marcar hora com o psiquiatra indicado pela professora.
Mas, Burt sumiu de novo. Os amigos, os professores já tinham uma resposta para o novo desaparecimento. Devia estar de novo com alguma celebridade do cinema, pensavam sorrindo e gargalhando.
Passaram-se dez dias e nada do Burt. Os pais foram à delegacia, dar parte do ocorrido. O filho Burt Lancaster de Almeida havia de fato desaparecido. E foram duas, três semanas, um mês. E nada de Burt aparecer com suas histórias absurdas. Onde teria ido? Alguns já brincavam com a coisa séria:
- Deixem ele. Deve estar com o Spielberg num dos planetas em guerra cinematográfica. Ou em Roma encontrando-se com Russel Crowe...
Passou mais um mês. E nada de Burt. A polícia, jornalistas atrás... Os pais desesperados. Os amigos já sentindo certo sentimento de culpa. Talvez Burt tenha se jogado num rio, deve estar andando feito um louco, um sem teto...
Sete meses se passaram e ninguém dava conta de Burt Lancaster de Almeida. Um dia, porém, uma senhora chamou a polícia para verificar um achado na fazenda que estava já meio abandonada. Era um corpo já começando a se decompor. A polícia chegou, o legista viu o corpo... Já havia tempos estava ali.
-Bem que eu havia sentido um mau cheiro por aqui. Pensei que fosse um cavalo, cachorro, bicho qualquer. Quem diria...?
Ao lado, já meio enterrada na terra uma placa com os dizeres:
“CUIDADO! O PRÓXIMO PODERÁ SER VOCÊ!”
Assinado: Hannibal Lecter.
Para ele e os amigos, os pais erraram ao escolher o nome do filho de Burt Lancaster de Almeida. Redondamente. Onde já se vira aquilo? Vivia nos cantos, escondia o nome. -Podem me chamar de Almeida. Ou Bê Ele de Almeida.
Lamentava terrivelmente pela sádica idéia de os pais terem dado a ele aquele nome. Um horror. E o pessoal que fazia bullying naquela época deixava-o nos cantos, cabisbaixo. Se entrava no time, a condição era não ser chamado pelo nome. Vivia explicando a origem do nome. Os pais viraram fãs do astro de Hollywood. O filme: A um passo da eternidade, From here to eternity, em 1953. Mas não merecia esse nome absurdo para um brasileiro. Mas pais são pais...
Na adolescência, época dos grandes conflitos, talvez, para fazer jus ao nome, ao clima, mostrou interesse pelo cinema. Colecionava notícias, artigos, entrevistas e até um álbum de figurinhas de astros e estrelas de Hollywood chegou a completar. Enquanto as amigas colecionavam fotos de Tony Curtis, Pat Boone, William Holden, e os marmanjos guardavam as fotos de Marilyn Monroe nua, dos seios de Jane Russel, Jane Mansfield, Sofia Loren de biquíni, ou da Brigite Bardot com topless, ele se prendia e só falava no Burt Lancaster e na Debora Kerr. Era para se vingar dos pais. Maldito nome. Maldito filme... Ninguém mais agüentava...
Tempos depois, uma mudança. Para pior. Cismou que tinha recebido a visita de Burt Lancaster, em pessoa, e não é que era mesmo, a própria Debora Kerr? E vá dizer que era mentira o que estava dizendo. Jurava para todos, em nome de Deus, de todos os santos. “Posso encontrar minha mãe mortinha se não é verdade.” Alguns riam, outros sorriam, meio compadecidos. Outros chegavam a fechar os olhos e murmurar:
- Agora chegou ao fim. Não tem mais jeito.
Até que um dia, sumiu. Depois de uma semana, voltou ele com a velha e antiga ladainha.
-Sabem, tive uma aventura maravilhosa. Imaginem que fiquei com uma mulher maravilhosa, a Audrey Hepburn. Vocês sabem dos filmes Sabrina, Mascarade, Guerra e Paz, Bonequinha de Luxo...
Claro, ninguém acreditou. Zombaram. Agora estava pirado de vez.
Mês seguinte novo sumiço. Todos perguntavam onde Burt teria ido. Na casa, ninguém sabia. Desaparecera?
Mas um dia, todo lampeiro, apareceu na praça. Ansioso dizia que tinha estado com Kirk Douglas, aquele dos filmes Spartacus, O.K. Corral e Montanha dos Sete Abutres.
Era o Burt chegar e todos saíam. Não agüentavam mais. A professora de História, muito próxima dos alunos, soube do caso. Procurou-o. Inútil. Ele teimava que era verdade. Ela ficou até de falar com os pais.
Sumiu de novo. E os amigos, já imaginavam que iria perder o ano. Tantas faltas... Nenhuma preocupação com os estudos. A mãe já contatada pela professora.
E um dia, o pessoal, já imaginando o que ele ia aprontar quando voltasse para o meio deles, já estava pensando em pedir aos pais uma intervenção. Aquilo não podia continuar.
Ele veio de novo. Estava cabeludo, barba...Uns ares de hippye...
Aí os amigos já viam a coisa, até com certa tolerância. Afinal estava até engraçada a presença de Burt entre os amigos.
-E aí, Burt, salve. Quem desta vez visitou você? Os amigos de lado aguardavam ansiosos a resposta.
- Lembram-se do filme Easy Rider? Em Português, foi Sem destino...
-Ah, não, não vai nos dizer que esteve com o Peter Fonda? Essa não...
- Juro, juro. Estive com Peter Fonda, Dennis Hopper e ainda com Jack Nicholson...
- Depois dessa... Pessoal, vamos. Não dá mais.
-Não, gente, espere um pouco. É a pura verdade. Que faço para vocês acreditarem em mim?
- Ah, Burt, vai tomar em Hollywwod. E saíram rindo.
A professora foi à casa do Burt.
-Cuidado, conheço um psiquiatra muito bom lá na Faria Lima. Leve-o. Não custa. Pode ser alguma coisa grave. E quanto mais grave, sabe, né? Pior!
- Vamos ver, disse o pai.
Em casa, os pais questionaram-no. E ele confirmou que tudo que estava dizendo era só verdade. Não estava inventando.
Os pais resolveram marcar hora com o psiquiatra indicado pela professora.
Mas, Burt sumiu de novo. Os amigos, os professores já tinham uma resposta para o novo desaparecimento. Devia estar de novo com alguma celebridade do cinema, pensavam sorrindo e gargalhando.
Passaram-se dez dias e nada do Burt. Os pais foram à delegacia, dar parte do ocorrido. O filho Burt Lancaster de Almeida havia de fato desaparecido. E foram duas, três semanas, um mês. E nada de Burt aparecer com suas histórias absurdas. Onde teria ido? Alguns já brincavam com a coisa séria:
- Deixem ele. Deve estar com o Spielberg num dos planetas em guerra cinematográfica. Ou em Roma encontrando-se com Russel Crowe...
Passou mais um mês. E nada de Burt. A polícia, jornalistas atrás... Os pais desesperados. Os amigos já sentindo certo sentimento de culpa. Talvez Burt tenha se jogado num rio, deve estar andando feito um louco, um sem teto...
Sete meses se passaram e ninguém dava conta de Burt Lancaster de Almeida. Um dia, porém, uma senhora chamou a polícia para verificar um achado na fazenda que estava já meio abandonada. Era um corpo já começando a se decompor. A polícia chegou, o legista viu o corpo... Já havia tempos estava ali.
-Bem que eu havia sentido um mau cheiro por aqui. Pensei que fosse um cavalo, cachorro, bicho qualquer. Quem diria...?
Ao lado, já meio enterrada na terra uma placa com os dizeres:
“CUIDADO! O PRÓXIMO PODERÁ SER VOCÊ!”
Assinado: Hannibal Lecter.
Trabalho e preguiça
TRABALHO E PREGUIÇA
Preguiça, é vista como um dos “sete pecados capitais”. Conceito de nossos pais, que, também, herdaram de seus antepassados: é falta de disposição para o trabalho, indolência. Na verdade, a palavra “preguiçoso” conota irresponsabilidade, falta de vontade em relação ao trabalho. Mário de Andrade marca seu Macunaíma, pela própria fala deste “Ai, que preguiça!”. Segundo a tradição, a palavra “trabalho” é vista como coisa ruim, desagradável. E com razão, na medida em que, sua etimologia é o vocábulo latino “tripalium”, instrumento de tortura composto de três paus. E há a questão da “exploração do homem pelo homem”. Assim, a palavra trabalho, por extensão, sempre teve a conotação de tortura. Mas, por outro lado, trabalho implica realização, muitas vezes até prazer (quando se trabalha no que se gosta). O poeta Camões, em seu soneto 88 (Lírica), faz uma apologia do trabalho ao mostrar Jacó trabalhando sete anos, “mais servira se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. Esses conceitos vêm a propósito do ensaio do jornalista Adauto Novais, no caderno ILUSTRÍSSIMA,”Apologia da preguiça“, FOLHA DE S. PAULO.PÁG. 4,em que apresenta a preguiça como “o objetivo essencial do homem.” e o trabalho como maldito. A forma como o trabalho foi visto na história da humanidade – coisa de escravo, coisa menor só para os pobres possibilita a deturpação do conceito do trabalho. Afinal, pensar, pintar, jogar basquete, futebol, nadar até como lazer é trabalho Aliás, foi o trabalho que possibilitou ao homem a condição de conforto, menos esforço para se conseguir coisas mais difíceis. Se estamos com preguiça, não vamos sequer fazer o que mais nos agrada que, muitas vezes, é concretizar pendores artísticos, ler, aprender, ajudar os outros. Será que ao escrever um conto, tocar gaita, compor artigo para jornal, vai ser resultado de uma ação maldita? Ora. Precisamos é mesmo estar num país mais desenvolvido para que todos possam fazer o trabalho de que gosta com o prazer de realização. Daí eu discordar de Adauto Novais.
Professor de Linguistica, de Jornalismo, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras.
Preguiça, é vista como um dos “sete pecados capitais”. Conceito de nossos pais, que, também, herdaram de seus antepassados: é falta de disposição para o trabalho, indolência. Na verdade, a palavra “preguiçoso” conota irresponsabilidade, falta de vontade em relação ao trabalho. Mário de Andrade marca seu Macunaíma, pela própria fala deste “Ai, que preguiça!”. Segundo a tradição, a palavra “trabalho” é vista como coisa ruim, desagradável. E com razão, na medida em que, sua etimologia é o vocábulo latino “tripalium”, instrumento de tortura composto de três paus. E há a questão da “exploração do homem pelo homem”. Assim, a palavra trabalho, por extensão, sempre teve a conotação de tortura. Mas, por outro lado, trabalho implica realização, muitas vezes até prazer (quando se trabalha no que se gosta). O poeta Camões, em seu soneto 88 (Lírica), faz uma apologia do trabalho ao mostrar Jacó trabalhando sete anos, “mais servira se não fora para tão longo amor tão curta a vida”. Esses conceitos vêm a propósito do ensaio do jornalista Adauto Novais, no caderno ILUSTRÍSSIMA,”Apologia da preguiça“, FOLHA DE S. PAULO.PÁG. 4,em que apresenta a preguiça como “o objetivo essencial do homem.” e o trabalho como maldito. A forma como o trabalho foi visto na história da humanidade – coisa de escravo, coisa menor só para os pobres possibilita a deturpação do conceito do trabalho. Afinal, pensar, pintar, jogar basquete, futebol, nadar até como lazer é trabalho Aliás, foi o trabalho que possibilitou ao homem a condição de conforto, menos esforço para se conseguir coisas mais difíceis. Se estamos com preguiça, não vamos sequer fazer o que mais nos agrada que, muitas vezes, é concretizar pendores artísticos, ler, aprender, ajudar os outros. Será que ao escrever um conto, tocar gaita, compor artigo para jornal, vai ser resultado de uma ação maldita? Ora. Precisamos é mesmo estar num país mais desenvolvido para que todos possam fazer o trabalho de que gosta com o prazer de realização. Daí eu discordar de Adauto Novais.
Professor de Linguistica, de Jornalismo, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras.
Cinema e política - Um lugar ao sol
INTENÇÕES E... ATOS
João Batista Chamadoira
Arte e realidade. Se o leitor não é das minhas priscas, mas ricas eras, peço desculpas. Mas é impossível não ver filmes do Telecine Cult (Canal 65). Daí o maravilhoso UM LUGAR AO SOL (A place in the Sun), 1951, dirigido por George Stevens. George (Montgomery Clift), ambicioso jovem,trabalha numa fábrica, namora Alice(Shelley Winters), colega de trabalho dele. Mas George conhece a prima, Angela (Elizabeth Taylor, linda como sempre), filha do tio, dono da fábrica, e esta provoca-o, nascendo uma grande paixão entre eles. Mas o jovem descobre que engravidou a namorada. E como casar com Angela? A solução para o ambicioso jovem é a morte de Alice: passearem de barco e ele jogá-la no lago, pegar o carro deixado ali perto e fugir. Ninguém descobriria. No passeio de barco, George se arrepende e quer desistir do crime. Mas é do destino o principal papel: Alice levanta-se no barco e cai no lago. Acidentalmente. Tentar salvá-la ou deixá-la morrer? A intenção acaba predominando. Ela morre. Crime perfeito? Não. Um homem, vê George pegar o carro e fugir. Com testemunha, como negar o crime? Condenado à morte, George, na véspera da execução, confessa ao padre que tinha intenção de matar Alice.Para o religioso, a intenção mostrava que ele realmente havia cometido o crime. A sabedoria popular já diz:” O que vale é a intenção”. Um pulo para a nossa realidade: qual será a verdadeira intenção de muita gente dessa nossa desgastada e absurda política? Fácil perceber que é esperteza - não inteligência - que move conhecidos políticos a se candidatarem a cargos eletivos. Será que a intenção é ajudar o Brasil? Colaborar para o engrandecimento de nossa nação? Esses conhecidos, vaidosos e desonestos políticos têm a intenção de ter poder, obter um dinheiro fácil, satisfazer seus desejos de “levar vantagem, custe o que custar”. Desses mal-intencionados políticos “ já estamos por aqui. “
Professor de Linguística, de Jornalismo, escritor e membro da Academia Bauruense de Letras
Cinema: Biltiful mas bonito
BILTIFUL, do diretor Alejandro Iñarratu, grande atuação de Javier Barden e Hansa Bouchab, tem Barcelona como cenário. No filme, contrapontos, oposições. O título, "Biltiful" é palavra escrita erradamente pela filha do personagem Uxbal (Barden) e de Amarambra (Bouchab, esposa). E palavra escrita num "inglês brasileiro" é a negação, no drama, do que significa a palavra beautiful, do inglês cuja tradução é "bonito". Uxbal, a esposa e dois filhos vivem mal em Barcelona. Ela, sem ele saber, (pensa que é massagista), é prostituta e tem caso até com o cunhado, irmão do marido. Uxbal é pai, esposo devotado e, apesar da miséria em que vive, procura, em vão, dar o máximo que pode aos filhos. Sobrevive como agenciador de imigrantes clandestinos chineses e africanos, oferecendo-os aos exploradores de mão de obra barata.na fabricação e venda de produtos pirateados e na construção civil. Assim, essas pessoas vivem numa Barcelona miserável, outro lado da linda e desenvolvida Barcelona que conhecemos. Ao invés das lindas e marcantes Ramblas, vemos imagens de ruas escuras, dando uma atmosfera de tristeza à vida até afetiva de Uxbal com os filhos e sua vontade de vencer. DA linda igreja da Sagrada Família, marca arquitetônica de Gaudi e um dos ícones de Barcelona, só as distantes imagens de suas torres. Enfim, uma Barcelona nada 'biltiful", vê Uxbal em seu drama de pai e pr0fissional frutrado, acrescido ainda da doença que precocemente, o tortura e da morte de dezenas de imigrantes causada pelo frio da Espanha. Um belo e beautiful filme, mas até a palavra propositadamente errada do tiítulo conota tristeza. Mas, nas arte, a tristeza também é beleza.
Paradise
Paradise
Through the window, the day
passes and remains blue.
Its colour is grey
And I remember when I see you.
The certain blue eyes
Make me feel a bit sad
Because, the're very nice
Come and make me glad.
As soon as you're here
I'm sure, I'll have other day.
My words are so sheer
And I know, you know may way.
And one week more
I won't have sad sighs.
Then I'll have the open door,
As the same as eternal paradise.
Through the window, the day
passes and remains blue.
Its colour is grey
And I remember when I see you.
The certain blue eyes
Make me feel a bit sad
Because, the're very nice
Come and make me glad.
As soon as you're here
I'm sure, I'll have other day.
My words are so sheer
And I know, you know may way.
And one week more
I won't have sad sighs.
Then I'll have the open door,
As the same as eternal paradise.
A moça do ônibus e Vinícius
Ponto de ônibus. De novo, ela estava ali, do mesmo jeitinho. Loira, pele bronzeada. Cabelos escorridos e molhados. Destacava-se das demais que esperavam o diário ônibus da minha viagem cotidiana das Perdizes até a Amaral Gurgel. Não havia ainda o benefício do metrô. Ou era o carona ou, como dizem os jovens, busão. E eu, franco observador dos passageiros do ôni,k preferi-o. Mas aquela passageira me chamva muito a atenção já no ponto, esquina da Monte Alegre com a Turiaçu.
Esguia, sempre de traje jovem, mjeans, umas vezes saia, outras, calça. De saia, deixava sobressair a pele bronzeada, as pernas, torneadas no torno, terminavam em sandálias só dela.
No ônibus seguia, andava sedguindo o balançar até acomodar-se nuns gestos como se, milimetricamente, tivesse -os preparado para o momento certo de sentar-se. Apesar de esticar a sainha jeans, num jeito de pudica que, de certa forma, conmtrariava o tamanho da roupa. Mas era tentar esconder o impossível. Os joelhos teimavam em escapar das saia jeans.
Uma manhã, correria para entrar no ônibus, cabelos momhados, claro deixei-a subir antes. Sorriso de agradecimento. Dentes branquíssimos nos lábios rubros e no rosto de bgronze. Um lugar apenas vago.
- O senhor quer que segture a pasta? Era a pasta de meus raszcunhos da dissetaação. Claro, passei-lhe, agradecendo baixinho. Veio um não de quÊ tão jovem e belo.
Duas semanas de espera em vão. Eu, já acostumado como se acostuma com uma imperdível guloseima, esperava-a com certo anseio. Curtir ônibus só com os usuários normais. faltava muita coisa no veículo. Esperar...
Mas valeu a pena a espera. subiu, sentou-se no único lugar vago. Ofereceu suas mãos para segurar a pasta. Claro , não tive dúvidas. E esboçamos pequeno sorriso recíproco.
No trajeto, ou por força da Santa Cecília - passávamos em frente à igreja, lá no bairro - a ocupante do lugar ao lado da moça bronzeada, sempre de jeans, levantou-se para descer o espaço para eu sentar-me. Peguei da pasta, abri-a e retirei um livro ed c comec ei a ler.
- O que o senhor está lendo?
- Vicícius de Mores.
- Um dos meus autores. Adoro a vida meio hedonista que Vinícius tem. Sou fã.
Senti-me imensamente copnformtado. Afinal, sabia algo de literaqtura. Apesar de uma época menos corrida e sperficial do a de hoje, via, com certa surpresa o detalhe da conversa dela. Hedonismo em Vinícius? Tinha toda razão.
Quis desafiá-la:
- Onde você viu essa filosofia grega em Vinícius de Moraes
- No "Samba da bênção", no "De repente não mais que de repente..." e mais ainda no " Soneto da fidelidade": " Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Esguia, sempre de traje jovem, mjeans, umas vezes saia, outras, calça. De saia, deixava sobressair a pele bronzeada, as pernas, torneadas no torno, terminavam em sandálias só dela.
No ônibus seguia, andava sedguindo o balançar até acomodar-se nuns gestos como se, milimetricamente, tivesse -os preparado para o momento certo de sentar-se. Apesar de esticar a sainha jeans, num jeito de pudica que, de certa forma, conmtrariava o tamanho da roupa. Mas era tentar esconder o impossível. Os joelhos teimavam em escapar das saia jeans.
Uma manhã, correria para entrar no ônibus, cabelos momhados, claro deixei-a subir antes. Sorriso de agradecimento. Dentes branquíssimos nos lábios rubros e no rosto de bgronze. Um lugar apenas vago.
- O senhor quer que segture a pasta? Era a pasta de meus raszcunhos da dissetaação. Claro, passei-lhe, agradecendo baixinho. Veio um não de quÊ tão jovem e belo.
Duas semanas de espera em vão. Eu, já acostumado como se acostuma com uma imperdível guloseima, esperava-a com certo anseio. Curtir ônibus só com os usuários normais. faltava muita coisa no veículo. Esperar...
Mas valeu a pena a espera. subiu, sentou-se no único lugar vago. Ofereceu suas mãos para segurar a pasta. Claro , não tive dúvidas. E esboçamos pequeno sorriso recíproco.
No trajeto, ou por força da Santa Cecília - passávamos em frente à igreja, lá no bairro - a ocupante do lugar ao lado da moça bronzeada, sempre de jeans, levantou-se para descer o espaço para eu sentar-me. Peguei da pasta, abri-a e retirei um livro ed c comec ei a ler.
- O que o senhor está lendo?
- Vicícius de Mores.
- Um dos meus autores. Adoro a vida meio hedonista que Vinícius tem. Sou fã.
Senti-me imensamente copnformtado. Afinal, sabia algo de literaqtura. Apesar de uma época menos corrida e sperficial do a de hoje, via, com certa surpresa o detalhe da conversa dela. Hedonismo em Vinícius? Tinha toda razão.
Quis desafiá-la:
- Onde você viu essa filosofia grega em Vinícius de Moraes
- No "Samba da bênção", no "De repente não mais que de repente..." e mais ainda no " Soneto da fidelidade": " Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure."
Nós e o tempo
Tempo em que o futuro não existe.
É o corpo: sentidos no presente,
e olhos no passado.
A menina não virou mulher.
O menino tronou-se homem.
De repente, de novo o futuro,
O passado agora é presente.
A menina não virou mulher.
E o homem, agora, tornou-se menino.
É o corpo: sentidos no presente,
e olhos no passado.
A menina não virou mulher.
O menino tronou-se homem.
De repente, de novo o futuro,
O passado agora é presente.
A menina não virou mulher.
E o homem, agora, tornou-se menino.